segunda-feira, 10 de novembro de 2008

CARTA À MÃE ÁFRICA - RICARDO VIANA



Ah, mãe África! Como estás?

Já se vão quase meio milênio que de seu seio fui extirpado.

Ah, mãe, não tive tempo de te mandar notícias. Fora uma viagem longa, amontoados nos tumbeiros, inerte de doer os ossos, pensava o quanto era bom correr livre por tuas savanas.

Ah, mãe, durante essa viagem apocalíptica, mais da metade de teus filhos morreram, ora por suicídio, ora jogados ao mar quando se rebelavam ou mesmo de saudades de ti.

Mãe, pensamos em orar juntos, mas como uma torre babel, não nos entendíamos. No meu silêncio clamei aos Orixás, mas não me ouviram em meio aquela orquestra dantesca de gemidos.

Aqui, mãe, nesta terra iria aprender as coisas da fé, ganhei um nome, já não sou Zumbi, sou Zé da Silva, trocado por açúcar fui moeda viva cunhada à ferro e fogo com a efígie do meu dono e da fé católica.

Ah, mãe, nos tiraram a alma, quero dizer, quase perdemos nossa cultura. Submetidos a toda sorte de sofrimentos, muitos dos meus irmãos não viveram por mais de um ano.

Num Domingo ensolarado, mãe, uma princesa enviada pelo pai Orixá parecia pôr fim ao nosso suplício, mas não assinou nossa carteira de trabalho, deixando hoje parte de teus filhos do pai Brasil, que ajudamos a crescer, desamparados. Somos 70% em média de semi-analfabetos, favelados, presidiários entre outras humilhações.

Ah, mãe, termino esta pedindo para não esquecer de mandar notícias dos meus irmãos da Etiópia, Somália. Creio que dias melhores virão e viveremos numa verdadeira Democracia Sócio-Racial porque o grito de Zumbi ecoa dentro de nossa esperança... Graças a Jesus, nossa alma - Cultura - sobreviveu.

Axé a todos, mãe!
fonte:http://www.cedine.rj.gov.br

domingo, 9 de novembro de 2008

MARIA LATA D'ÁGUA NA CABEÇA

Maria Mercedes Chaves. Esse é o nome de batismo de Maria Lata D'Água, uma das mais célebres passistas da Portela, escola em que desfilou por 45 anos. Apesar de uma vida de grandes perdas e privações, Maria marcou o carnaval do Rio de Janeiro, caracterizado pelo bom humor ao lidar com as próprias vicissitudes.
Nascida em Diamantina (MG), em 1933, Maria foi morar no Rio antes de completar 13 anos. Começou a participar dos desfiles em 49, quando saiu pelo Salgueiro, ainda sem a personagem. Mais tarde, foi trabalhar em um circo, onde tudo começou. Em entrevista ao site de uma comunidade católica, que agora freqüenta, ela lembra desse começo:“Um dia nos convidaram para trabalhar num circo, em Nova Iguaçu (RJ), para encher lingüiça até os grandes artistas chegarem, mas eles não chegaram. O circo estava cheio e o patrão não sabia o que fazer. Disse que poderia dançar com uma lata d'água na cabeça. Ele não concordou. Tinha outra Maria da Bahia, que dançava igual. Eu disse que fazia melhor. Ele pediu show de 2 horas e, no fim, deu certo”, lembra.
Pouco tempo depois do sucesso no circo, Maria foi apresentar a dança no programa do Chacrinha, que dispensa apresentações. “Eu fiquei no trono do programa dele e passei a ser conhecida na cidade. Todo mundo dizia: 'Maria Lata D'água'. Até que um dia me convidaram para sair numa escola de samba”, lembra a passista, que já havia saído por diversas outras escolas, mas sem posição de destaque.
O convite foi feito pelo Salgueiro. A escola, contudo, inexplicavelmente, não aceitou que ela saísse com a lata d'água. Foi quando a Portela a convidou para um show. Resultado: foi aprovada e desfilou durante 45 anos na escola . “Viajei, morei na Europa durante 30 anos, mas todos os anos eu voltava e desfilava na Portela”, lembra ela.
A Maria Mercedes Chaves não desfila desde 1991, quando ingressou na Comunidade Canção Nova. Desde então, ela afirma que não teve mais coragem de desfilar. Maria Lata D'Água permanece, contudo, nas antigas imagens (como essa que resgatamos acima) e no samba “Lata D'Água”, de Luís Antonio e J. Júnior, de 1952.

Lata d'água
(Luís Antonio e J. Júnior)

Lata d'água na cabeça
Lá vai Maria
Lá vai

Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão
Leva a criança
Lá vai Maria

Maria
Lava a roupa
Lá no alto
Lutando pelo pão
De cada dia
Sonhando com a vida
Sonhando com a vida
Do asfalto
Que acaba
Onde o morro principia

POR BRUNO VILLAS BÔAS

SAUDADE


Derrepente senti um cheiro gostoso... Seria do bolo da minha vó? Ou do café com leite que ela preparava? Do feijão preparado por ela??? Hummmmm...
SIM!!!! Da casa da minha avó. Mas, que saudade...
Há pessoas que acham que avó tem cheiro de naftalina (risos).
Não a minha. A minha cheirava a ervas... Sim, ecologicamente correta (risos).
Lembro do cheiro do banho de descarrego dela. Nossa, que aroma!!!
Depois do banho ela seguia para cozinha. Tipo um ritual, que antecedia aos prazeres do nosso paladar.
Então, sua casa era uma orgia de odores e sabores.
Ai, que saudade... De sentir seu toque nos meus cabelos, ao trançá-los com tanto esmeiro.
Da sua voz . Minha vó vivia cantarolando pontos para Oxum, para caboclos, pretos velhos.
Era uma voz tão gostosa, aguda e afinada.

"Eu vi mamãe Oxum na cachoeira
sentada na beira do rio
colhendo lírio, líriolê
colhendo lírio, líriolá
colhendo líriopra enfeitar nosso congá"

Sei que as minhas apreciações estão no passado, podendo induzir a idéia de que a minha vó não esteja entre nós.
Graças aos deuses ela continua conosco, nos encantando.
Eu senti saudade de um momento da minha vida, lá atrás.
Época na qual para andar de ônibus se utilizava fichas, coloridinhas.
Pura nostalgia.

sábado, 8 de novembro de 2008

OBAMA!!!!

Obama Venceu
Aderaldo Gil


Obama venceu, venceu,
Venceu mesmo?
Os eufóricos gritam: SIM!
Os descrentes:
Quem sabe ele não assume!
Mesmo assim Obama venceu
O Quênia venceu
Venceu a África também
Martim Lutherking
Malcon X
Du Bois
E tantos outros guerreiros também venceram
Veja a feliz coincidência:
O primeiro negro mais poderoso do mundo
É oriundo, em sua ancestralidade, da região
Que pariu o ser humano: o Quênia!
A África!
Por isso acho bom festejar
Obama venceu
E o restante se fudeu
Mas não foi por isso que Obama venceu
Venceu por perseverança
Herdou dos orixás
A missão de fazer acontecer
Banhado de histórias de luta
De morte em plena batalha
Foi por isso que Obama venceu
E olhando pra nossa terra
Esse Brasil imenso
Tão grande tão grandioso
Quanto grandioso foi o trabalho
Dos filhos da África na construção deste Brasil
Venceu também Zumbi!
Luiza Mahin
Abdias Nascimento
E tantos e tantos outros
Machado
Lima
André
Souza
E tantos Josés e tantas Marias
Negras soberbas
Foi por isso que Obama venceu.
E cá pra nós: venceu bem,
Vocês não acham?

Aderaldo Gil, 07.11.08, Vila Isabel.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cozinhando


Se existe uma coisa que eu goste de fazer, depois de ler (e sambar... rs), é cozinhar. E esse gosto eu apurei depois de casada. Ninguém da família, modéstia a parte a galera cozinha muito, imaginaria que eu fosse me sair tão bem (risos).

Cozinhar é encantamento. Segundo o meu regente Claudecir Francisco do Coral N'Korin Oloorun, não há feitiço mais forte. A verdade é que quando se cozinha vai muito dos seus sentimentos e é aí que o bicho pega. Fico feliz quando a comida sai no ponto e as pessoas comem com prazer. Porque quando eu vou pra beira do fogão, o meu coração está limpo e feliz. Sempre cantarolo alguma coisa. É um sentimento muito bom, porque estou dando o meu melhor.


CALDEIRADA DE MEXILHÕES


Ingredientes:2 kg de mexilhões, 4 colheres (sopa) de azeite, 2 cebolas cortadas em rodelas finas,massa de tomate, pimenta, salsinha, vinagre, sal.


Modo de Preparar:Raspar as cascas dos mexilhões e laver bem. Colocar numa panela, sem água, e levar ao fogo. Com o calor, eles se abrirão. Retirar das conchas e fazer um refogado com azeite,cebola,vinagre, salsa, sal e pimenta. Juntar depois a massa de tomate e os mexilhões. Juntar a água, pouco a pouco, e deixar ferver. Cortar 4 pães em fatias, torrar um pouco e colocar no fundo de uma terrina própria. Sobre as torradas colocar os mexilhões. Tapar a terrina e servir bem quente.

CENTRO CULTURAL MUNICIPAL PARQUE DAS RUÍNAS - entrada franca


09 / novembro - domingo - 15h às 19h

Roda de Fé

Dorina e grupo Samba com Atitude

A famosa roda de samba do Parque das Ruínas acontece mais uma vez com Dorina e grupo Samba com Atitude resgatando os bons sambas de outrora. Neste domingo uma homenagem ao poeta suburbanista Luiz Carlos da Vila.Em caso de chuva a roda de samba será cancelada.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pássaro Sankofa


Termo de origem akan (África ocidental, região da atual República de
Gana), sankofa significa a recuperação e valorização da rica tradição cultural africana –com seu alto nível de conhecimento –e do alto grau de desenvolvimento atingido pelas sociedades africanas. Seu símbolo é a imagem de um pássaro com a cabeça voltada para trás, estilizada no ideograma da escrita africana adinkra. Esse símbolo, válido em todo o mundo africano,também remete ao conhecimento e à divulgação do papel dos africanos e seus descendentes na construção das sociedades de todas as Américas.

fonte: Nascimento, Elisa Larkin.coleção Sankofa.

A descoberta deste símbolo fortaleceu o meu compromisso social como historiadora. Tendo em vista a necessidade de resgatar a memória para continuar fazendo história no presente.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

PASTEL DE ANGÚ


Pesso@as, devido aos vários pedidos, aí está a receita do Pastel de Angú. Porém, antes gostaria de contar uma breve história pessoal.

Confesso que quando escolhi esta receita para inaugurar a coluna de culinária do Cabrocha visualizei uma roda de samba com várias personalidades, que se eu tivesse tido oportunidade de agradar ao paladar deles seria esta a iguaria servida inicialmente. Nessa pretensa roda estavam João da Baiana, Assis Valente, Madame Satã, Wilson Batista, Cartola, Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira, São Pixinguinha, Rainha Kelé, Noel Rosa, Aracy de Almeida (risos). E haja pastel... (risos)

HISTORIA DO PASTEL DE ANGU
O pastel de angu foi criado no século XIX, por volta de 1851, na época em que Itabira do Campo era distrito de Ouro Preto.
O cenário onde teve início a criação do "Pastel de Angu”, foi a Fazenda dos Portões, que em 1796 pertencia ao Sr. José Ferreira de Aguiar e que, com o seu falecimento em 1846 foi passado ao seus filhos. Um deles, o Sr. Benedito Ferreiro de Aguiar, em 1850 vendeu a parte que lhe cabia para o Sr. David Pereira Lima, porteira fechada, com escravos, benfeitorias e todos os animais.
Relata a história, que Dona Ana Joaquina de Lima, esposa do Sr. David, tinha um bom relacionamento com as escravas e levou duas delas para dentro de casa, tirando-as da senzala.Uma era conhecida por Philó e a outra, por Maria Conga. Elas foram as primeiras a usarem a sobra de angu, principal refeição dos escravos. Na falta de uma complementação de carne, a necessidade e a criatividade das negras as fizeram usar um guisado feito com umbigo de banana, embora em algumas raríssimas ocasiões as escravas, em sua lida na cozinha, escamoteavam pedaços de carne escondendo-os nos roletes de angu e assando-os em rústicos fornos feitos com cupinzeiros.
Originalmente, a forma do “Pastel de Angu” era arredondada, o recheio colocado sobre a massa era enrolado e depois achatado para ser assado, e recebiam o nome de “Boroa".
Tomou a forma atual no Século XIX, por volta de 1885, pelas habilidosas mãos de Dona Ana da Prata Baêta, conhecida por “Dona Saninha da Prata” que, em 1915 passou a receita para sua nora Dona Emilia Martins Baêta, apelidada de “Dona Milota”, falecida em 1972. Dona Milota fazia os Pastéis de Angu, e os vendia como forma de ajudar nas despesas domésticas.
O pastel de angu é muito difundido na cidade e sua fama e receita transpôs as fronteiras do município, sendo levadas para Belo Horizonte, ltabira, Conceição do Mato Dentro, General Carneiro, Sabará e dezenas de outras cidades, inclusive no Estado de São Paulo.
Há historia na cidade, que a família Gonçalves, teve um papel importante na divulgação desta delícia, fora de ltabirito, pois o próprio Dr. Guilherme Gonçalves em suas visitas médicas longe de ltabira do Campo, às vezes comentava sobre o delicioso “Pastel de Angu”, despertando em todos, a vontade de obter a receita.
Até hoje, a receita é passada de mãe para filha, conservando fielmente o modo de fazer e como fritá-los.

Ingredientes:
- 3 litros de água fervendo- 4 tabletes de caldo de galinha- 3 colheres (sopa) de óleo- 2 colheres (sopa) de açúcar- 1 colher (sopa) de sal- 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio- 2 quilos de fubá de moinho d´água

Modo de preparo:
Ferver a água junto com o caldo de galinha, o óleo, o açúcar, o sal e o bicarbonato. Juntar o fubá de pouco a pouco. Sovar bastante com colher de pau e a panela ainda sobre o fogo. Colocar a massa sobre mesa de pedra. Proteger a mão com pano e plástico e sovar novamente até a massa ficar lisa. Fazer bolinhas com o angu e abrir na palma da mão protegida com plástico e pano. Rechear de carne moída temperada ou queijo ralado. Dobrar em formato de pastel. Selar bem. Fritar em óleo não excessivamente quente.
fonte: www.caminhantesdaestradareal.com.br