segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quem tem boca fala o que quer, mas se tem ouvido... Toma!

Família e amigos de Nadinho da Ilha respondem a desastrosa nota publicada em “O Globo”, coluna de Ancelmo Gois

A propósito da nota “A voz de Sargento”, publicada na coluna Ancelmo Gois, em O Globo, 14/08/2009, vimos, na qualidade de família e amigos do cantor, compositor e ator Nadinho da Ilha, nos posicionarmos: o artista convivia e lutava com diabetes há cerca de oito anos. E em função desta doença, passou a ter limitações físicas, mas que, se por um lado não permitiam agilidade total, não o impediam de trabalhar. Ele era atração fixa regular na casa de shows Rio Scenarium, na Lapa, assim como participou de muitos eventos/espetáculos promovidos pelo CPC Aracy de Almeida. Como muitos brasileiros (somados a idade e os custos altos de remédios e alimentação especial), vivia em aperto financeiro, o que é diferente de “penosa miséria”. A solidariedade de amigos foi necessária algumas vezes, novamente em uma situação que acomete aos que não nasceram em berço de ouro. Nos últimos dois meses de vida, quando diagnosticou-se um câncer em estado avançado, a situação complicou-se, ficando ele internado no Hospital Municipal Miguel Couto, mas com um tratamento, na medida do possível, digno e correto. Dado o estágio da doença ele veio a falecer em 04/08/09, e não em 12/08, como informa a coluna.

Achamos que o enredo de escola de samba “A Penúria do Sambista”, caso houvesse, seria de mais valia para a classe média em seus camarotes do que para a vida real, o dia-a-dia dos sambistas, que pode ser por vezes de guerreiros sempre lutando, correndo atrás, mas sobrevivendo e vivendo com dignidade. Não concordamos com uma ideia subentendida nesta nota, e por vezes publicamente ventilada, de que o sambista/artista tem que ter tratamento ou pensão especial pelo seu talento ou pelas alegrias que dá à sociedade. Neste sentido, concordamos com o mestre Nei Lopes, que disse que, como todo profissional liberal, o artista deve se proteger, pagar autonomia a previdência, etc. Nos associamos a esta ideia, assim como a outras. Exemplos positivos e publicados pelo próprio jornal “O Globo” são muitos: o desconforto da cantora Rosemary gerou uma demanda e um movimento social, que culminou na previdência privada para artistas (CULTURAPREV, governo federal, sindicatos de artistas e músicos, etc.); o artigo publicado por Deborah Cheyne, presidente do Sindicato dos Músicos (08/08/09), cobrando a legalização na contratação dos músicos (contra as chamadas “notas frias” ou de “favor”), mas também cobrando dos músicos portarem-se como cidadãos, com direitos e deveres. Recuando ainda mais no tempo, Bucy Moreira (sambista, neto de Tia Ciata e que faria 100 anos em 01/08/2009), de forma organizada, fundou com outros músicos, nos anos 60, uma cooperativa habitacional e até hoje a sua família e outras, residem no “Conjunto dos Músicos”, no Engenho da Rainha, fruto desta organização.

Em tempo 1: a viúva do cantor, Sra. Ana Maria Pereira do Valle, agradece, mas não autorizou a ninguém a se lamentar em seu nome; não era o feitio do próprio falecido.

Em tempo 2: Xangô da Mangueira, com quem também convivemos muito, uma vez que era presidente de honra de nosso CPC Aracy de Almeida, morreu aos 85 anos, com situação financeira estável e organizada. Sonia Julianelli Ferreira, sua viúva e também membro do CPC escreveu para o colunista que justificou-se dizendo gostar muito de Xangô, mas não publicou nenhum esclarecimento.

Flavio Aniceto dos Santos – produtor cultural, coordenador do Coletivo de Produção Cultural Aracy de Almeida e Ana Maria Pereira do Valle – viúva de Nadinho.

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